POR DO SOL DO RIO GRANDE DO SUL

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Quando a tarde cai, e o sol beija o horizonte a pampa se cala para escutar os grilos

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HO DE CASA

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Á Beira do Fogo

Causos Gauchescos

O Livro Á BEIRA DO FOGO, não é um livro comum
assim como não é comum à capacidade criativa do
povo brasileiro. Este livro, trás 24 causos narrados
de uma forma diferente de tudo o que foi editado
no gênero, pois os mesmos são descritos, como se
o autor realmente tenha vivenciado os fatos.
São narrativas bem humoradas e com bom
enredo, onde o autor inventa as situações mais
inusitadas, acontecidas em ranchos e pesqueiros
assombrados, cruzamentos entre raças, caçadas e
pescarias, como o fato de matar 77 caturritas de
um tiro só usando uma carabina descarregada,
Pescar com um couro de cobra ao invés de rede,
relatar um romance com o fantasma de uma bela
moça, entre outros ainda mais difíceis de acreditar.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

FONTE "CHASQUE DO CONHAQUE".

Tocando a Lida de Tiago Souza.




O disco do jovem intérprete apresenta doze música campeiras com boas letras que retratam a vida do homem rural e melodias autênticas e de bom gosto. Nomes de autores também jovens como o intérprete assinam algumas composições, mas também há autores conhecidos a exemplo de Severino Rudes Moreira, Anomar Danúbio Vieira e Roberto Luçardo, entre outros. A produção bem cuidada é feita por Maurício Lopes que também é autor de algumas obras. Vertical.

FONTE JORNAL DO NATIVISMO.Coletânea de causos e poemas incluidos um causo e um poema de SEVERINO RUDES MOREIRA. Autor do livro Á BEIRA DO FOGO

Coletânea Poética - Poesia em Prosa e Poema - Vol. 01. A coletânea poética comemorativa dos 22 anos do Jornal do Nativismo apresenta poetas e contistas do Brasil, Uruguai, Peru e México. Há sonetos, décimas, quadras, canções, causos e crônicas, entre outros gêneros. Nomes conceituados formam o elenco de escritores: Adão Bernardes, Adão Quevedo, Alvandy Pereira Rodrigues, Andrés Barahona Londoño, Antonio Carlos Pacheco, Antonio Daniel Busch, Aristides Viana Gonçalves, Candido Brasil, Carlos Moacir Pinto Rodrigues, César Huapaya Amado, Cláucia Ferreira da Silva, Cláudio Pinto Sá, Dilmar Paixão, Estanislau Robalo, Fabio Mendonça, Fernando Hernandez Mor, Gargione Ávila, Gildinho (Nésio Alves Corrêa), Ivi e Marcelo, Jadir Oliveira, José Atanásio Borges Pinto, José Estivalet, José Heitor Madri Fonseca, Jurema Chaves, Lauro Teodoro, Leandro Gonçalves, Leo Ribeiro, Leonardo Cordeiro, Luíz Bráz (Genaro Luiz Hamermüller), Maria Ester Vidal, Maria Teresa Barbat, Mário Amaral, Mário Terres, Martim César, Miria Pereyra, Moisés Silviera de Menezes, Nair Vieira Soares, Paulo de Freitas Mendonça, Pedro Júnior da Fontoura, Rômulo Chaves, Severino Rudes Moreira, Tiago Cezarino e Zauri Tiaraju de Castro. 128 páginas. Nativismo Editora. nativismo@nativismo.com.br

SAIBA UM POUCO MAIS SOBRE O LIVRO "Á BEIRA DO FOGO"

à Beira do Fogo - Resultado da Pesquisa de livros do Google


Severino rudes Moreira

books.google.com.br/books?isbn=8578935640

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Inicio de tudo. Terceiro lugar na 6ª Reculuta de Guaiba com a musica ENTRE BAGUAIS parceria com o saudoso musico e artista plástico Rui Pedro Schimtz, defendida por Flavio Hanssen. Tchê de Deus isso foi em novembro de 1989.

A familia é o esteio de tudo o que se conquista. Nada seria possivel se não tivesse paz de espirito e muita compreensão.

Este é um recanto abençoado de minha querida Caçapava do Sul.

CAPA DO LIVRO Á BEIRA DO FOGO. Na primeira edição através da LEB (Livraria e Editora Bageense). Agora reeditado e comercializado pela biblioteca 24x7 e disponivel no site www.biblioteca24x7.com.br

RECULUTANDO PELOS FESTIVAIS VOL. 02. Coletânea com musicas oriundas de festivais na voz de vários interpretes.

RECULUTANDO PELOS FESTIVAIS VOL. 01. Coletânea de musicas com vários intérpretes.

Meu primeiro CD, Uma coletânea de musicas premiadas em festivais e mais duas musicas inéditas "Na Solidão do Meu Rancho" e "Jujos da Alma" todas na voz do jovem intérprete Tiago Cesarino.

31ª Califórnia. Tivemos a felicidade de vencer a Linha de Manifestção com a musica ESTIAGEM, parceria de Zulmar Benitez e interpretação de Eraci Rocha

Essa é a mais nova filha. "Assim diz o coração". A criança é uma eterna fonte de inspiração além de ter o poder de nos remoçar com a meiguice e inteligencia. Quem não tiver capacidade de aprender com a inocencia, com certeza não sabe nada da vida

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A ÁGUA DO CERRO ( Causo do livro Prosa de Galpão)

A ÁGUA DO CERRO




Caçapava do Sul e Santana da Boa Vista para mim, sempre foram e serão uma coisa só, pois além de Santaninha haver se emancipado de Caçapava, os dois lugares são conhecidos no Brasil inteiro por seus pontos históricos, como o Forte Dom Pedro e a Toca da Tigra, mas também por belas obras da natureza como o rio Camaquã e uma enormidade de pedras e cerros de beleza incomum.

É como um dia desses, eu dizia em uma roda de causos: - Piratini, Caçapava do Sul e Santana da Boa Vista é tudo igual, pois tudo é Capital Farroupilha. Afinal, Santaninha se desmembrou de Caçapava.

Entre essas belezas naturais e históricas, Caçapava do Sul tem o Forte Dom Pedro, as Guaritas, a Pedra do Segredo e a Pedra do Macaco. Em Minas do Camaquã, além das galerias das minas tem a Pedra da Cruz enquanto que em Santaninha tem o Cerro da Ronda e a Toca da Tigra.

Pois é nesse Cerro da Ronda, que eu penso já ter falado em outros causos e volto a falar agora, pois é uma pedra que deve ter uns trinta ou quarenta metros de altura, formado por um paredão liso por todos os lados, e fica na região denominada Rodeio Velho, no interior de Santaninha e fazia parte dos campos que eram de meu falecido tio Deoclides Moreira.

Na verdade, o cerro é um potreiro que deve ter mais ou menos, umas oito braças de campo no topo da pedra e diga-se no meio deste assunto, além de ser um campo abrigado e bueníssimo de pasto, tem uma vertente de água que é uma cousa de louco. Água pura que verte inverno e verão de uma racha de pedra formando um belo lagoão que dá até alguma trairita de tamanho regular.

Para subir no cerro, só existe uma trilha que não cabe mais do que um animal de cada vez e, por isso, se torna um lugar de fundamento para criar gado e cavalo, pois basta atravessar meia dúzia de ramas para que animal nenhum consiga fugir.

Era nesse potreiro que meu tio botava terneiros e potros na época do desmame.

Diz a história, que em tempo de guerra, um exército inteiro fez campana em cima do Cerro da Ronda, pois devido à altura, era um lugar de fundamento para vigiar toda a região, pois dali se enxerga léguas e léguas ao redor.

Bueno gauchada, acho que entenderam mais ou menos o jeito do Cerro da Ronda e agora vamos ao fundamento deste causo que agora conto.

A casa do tio Deoclides, distava uns quinhentos metros daquele monumento de pedra bruta e, naquele tempo, traziam água para o consumo de uma cacimba que havia quase ao pé do cerro. Acredito até que a água tinha origem na mesma racha e vinha descendo pelas abas de pedra e, como era um bocado longe, era trazida em uma pipa feita de um barril, colocado em uma forquilha de madeira e puxada na cincha de um cavalo ou a pescoço de boi manso.

Essa lida dava algum trabalho, pois o consumo da casa não era pouco e precisava prender um cavalo quase todos os dias para arrastar a pipa.

A vontade de meu tio, era de encanar essa água e levar até a casa, mas o lugar da cacimba era muito baixo e para fazer isso, só colocando uma bomba ou fazendo um cata - vento, mas qualquer uma das idéias era bastante cara, pois além dessa montoeira de coisas ainda teria o encanamento.

Bueno, essa região do Rodeio Velho tem uma distância de mais ou menos seis léguas de Minas do Camaquã e com isso, a rapaziada daquelas campanhas, terminava sempre arrumando um bom emprego na vila. No caso do tio Deoclides, dois sobrinhos trabalhavam por lá quanto surgiu a notícia de que estavam paralisando os serviços da mina.

Certo dia, meu tio ouvindo os avisos da Rádio Caçapava, o que era um costume diário naquelas campanhas, escutou o chasque de um desses sobrinhos pedindo que fosse com urgência com uma carreta a Minas do Camaquã, pois lhes havia conseguido uns metros de mangueira para encanar água.

Não se entusiasmou muito, por achar que seriam uns quarenta ou cinquenta metros de mangueira, mas resolveu atender mesmo assim o chamado do rapaz e, para garantir a viagem, à tardita deixou a carreta carregada até os fueros de lenha buena de aroeira preta que há dias secava em cima de um lajeado, pois mesmo que fossem poucos metros de mangueira, a venda da lenha renderia uns pilas.

Na madrugada seguinte, prendeu os bois, botou um fiambrezito na mala para a viagem e pegou a estrada. Afinal eram seis léguas de estrada e boi manso tem um tranco lerdo.

Com meia braça de sol, chegou a Minas do Camaquã. Para vender a lenha foi num upa e assim, antes do meio dia, estava encostando a carreta no portão da ferraria para pegar as mangueiras.

Espantou-se quando viu, pois eram tossores de um tipo de mangueira reforçada com borracha e um tipo de cordão por dentro. Essas mangueiras antes eram usadas para levar o ar comprimido aos marteletes, e que pelo fato de estarem encerrando as atividades de mineração, não haveria para quem vender e com certeza o destino seria uma bela fogueira para não ficar ocupando lugar nos galpões.

O homem velho não era dos mais estudados, mas sabia por instinto que se aquelas mangueiras suportavam ar comprimido, por certo não haveria pressão de água que lhes rompessem e para melhor ainda, voltou com a carreta lotada até os fueros de mangueira e com certeza, poderia canalizar a água, não da cacimba e sim da vertente que havia lá no topo do cerro da Ronda. Assim a água desceria esses vinte ou trinta metros de paredão, sem precisar de bomba e nem cata – vento.

Não foi sem sacrifício, que junto com alguns vizinhos e muita cincha de cavalo, conseguiu puxar a ponta da mangueira até o poço que se formava abaixo da racha de pedra, no alto do cerro, pois só lá em cima tinha mais de quinhentos metros de extensão até chegar à aguada.

Puxaram a outra ponta da mangueira, aproveitando forquilhas das árvores do mato para deixar mais ou menos alevantada, até chegar ao galpão, onde fez braçadeiras de arco de barril, para deixar bem pregada em um dos esteios.

A duras penas, conseguiu enfiar uma torneira de metal no buraco da mangueira e depois arrochar bem ela com um arame de quincha fazendo um tipo de torniquete pra mó de aguentar o tirambaço da pressão que com certeza a água iria descer lá do alto do cerro.

Tomou ainda o cuidado de deixar a torneira aberta, e só então pediu a um dos vizinhos, que subisse e destampasse o outro buraco da mangueira, que ficava lá dentro do poço no alto do cerro.

A partir daí, era só esperar a goela daquela mangueira, trazer água até o rancho.

Meia hora depois o vivente abanou a camisa lá em cima, dando conta que a tarefa estava cumprida, então o meu tio e os demais viraram os olhos para o curso da mangueira cerro abaixo e viram que nos lugares limpos ela se retorcia que nem cobra molhada de creolin e no meio do mato se ouvia o ronco da água e se conseguia notar o tremor no folharedo das árvores.

Foi num upa e a água mostrou a força que vinha, pois a pressão foi tanta que mais pareceu um tiro de canhão quando bateu na torneira ali colocada.

A torneira sumiu no ato, fazendo um vuuuuuuu e limpando folhas de laranjeira na cruzada.

Meu tio, até imaginou que alguém tivesse fechado essa torneira por não ter a noção da força que a água pudesse ter naqueles tantos metros cerro abaixo.

Pra não me espichar muito neste causo eu afirmo que a ideia de encanar água não deu certo, em partes devido à força exagerada que a água tinha, mas resolveu-se o problema do mesmo jeito, pois a pressão foi tamanha, que se abriu um socavão tão fundo ao lado do esteio do galpão que chegou até um veio de água que tinha há mais de trinta metros de fundura.

Nunca mais secou, e no lugar foi feito um poço, que afirmo, pois isso eu comprovei e está até hoje nos fundos da tapera.

Nem a estiagem de 1987 foi capaz de baixar um palmo no nível da água.

No dia seguinte, meu tio observou a corvada revoando na costa do cerro e resolveu dar uma bombeada para ver se havia morrido algum bicho no campo.

Encontrou uma vaca morta, bem na divisa com o campo do seu Belmiro Marques, a uns oitocentos metros da casa.

Assim comprovou que de fato a pressão de água tinha sido um assombro, pois a pobre vaca estava com a torneira enfiada na cabeça, e a dita tinha entrado no olho esquerdo do animal e saído só o biquinho no direito.

Assim ficou comprovado também, que de fato estava aberta quando recebeu a pressão da água, pois no biquinho dela ainda gotejava o miolo da vaca.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

TRECHOS DO LIVRO DISPONIVEL NO GOOGLE

à Beira do Fogo - Resultado da Pesquisa de livros do Google


Severino rudes Moreira

books.google.com.br/books?isbn=8578935640...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

DAS CRUZES ( Musica vencedora da Tropeada do Canto e do Verso Sulino de Caxias do Sul)

DAS CRUZES


Severino Moreira/Zulmar Benitez/Cristian Camargo



São tantas a Cruzes, que o mundo tem

Porém raras vezes, se para pra pensar,

Que nem todas simbolizam suplicio

Nem todas nos plantam, Argueiros no olhar



O olhar que cruza. É um buenas tarde

Sauda quem chega, acena quem vai

E quando a mão é cruz sobre o peito

Simboliza a fé. “Em nome do Pai”.



Uma cruz que envelhece no vazio da Pampa,

É de quem carregou a cruz mais pesada,

E a cruz que ressalta n´algum mausoléu,

Traduz uma vida, que não faltou nada.



As cruzes que voam, em tarde de sol,

Se tem asas negras, são funerais,

Mas quando aparecem, com branco nas asas,

Retinas vislumbram os tempos de paz.



A cruz das estrelas, na quincha do pago,

É que da o sentido, na cruz da estrada

E as cruzes do pingo, que uso por trono

É onde eu cruzo feliz nas canhadas.



Os braços abertos é a cruz do corpo

É alma aberta, sentimento fraterno,

E esse calor, que brota por dentro,

Ameniza agruras, de qualquer inverno.



Na cruz de uma adaga, escora-se o golpe

A cruz no estanho é fogo mortal,

A cruz missioneira multiplica braços

E revive a história, num canto imortal.



A cruz na boca pede silencio,

A cruz a quem benze, tem dialeto,

A cruz no papel é escola da vida,

O aval na palavra, do analfabeto.



Esta na cruz, a paixão de Cristo

Da Cruz se fez o nome de alguém

Se a cruz representa, santíssima Trindade,

Tem a fé que traduz, o caminho do bem.

LIVRO Á BEIRA DO FOGO

MEU LIVRO


O Livro de causos gauchescos “A Beira do Fogo” de Severino Rudes Moreira acaba de ser reeditado pela Biblioteca 24X7, uma representante da Seven System em São Paulo

O livro pode ser comprado impresso ou online ou ainda locado por tempo determinado via internet.

Acesse e confira: WWW.biblioteca24x7.com.br WWW.biblioteca24x7.com.br

quinta-feira, 29 de julho de 2010

CAUSO DO LIVRO PROSA DE GALPÃO (Já na Editora)

O SUMIÇO DA JAGUATIRICA




Conforme relatei em outros causos, nasci e me criei lá nas grotas de Santaninha e, nessa infância campeira que eu tive, muitas coisas o tempo não apagou até hoje, e entre elas estão com certeza a figura bonachona dos meus padrinhos.

Posso dizer que tive muita sorte com os padrinhos que meus pais escolheram, todos muito amigos, e principalmente presenteiros, pois não foram poucos os presentes que ganhei deles.

Quem se criou na campanha igual a mim, por certo sabe que a “criação” é o tipo de regalos que os padrinhos dão para os afilhados e comigo não foi diferente. Lembro que ganhei uma terneira colorada do padrinho Artur, que por azar era machorra e nunca pegou cria, um petiço tostado do padrinho Amintas, que nunca vi mais corredor, Dava quinze em terra lavrada, sem precisar levantar o mango. Mas inesquecíveis mesmo, foram os dois presentes que ganhei da minha madrinha Orlandina.

Uma franga polaca branca, que chegava a botar ovo de quatro gemas e ainda uma leitoa que eu batizei de Jaguatirica. Não que fosse parecida com uma jaguatirica, mas pelo fato de ser toda pintadinha de preto e branco.

Tinha sido uma barrigada de onze filhotes, e a madrinha mandou que eu escolhesse uma leitoa.

Não escolhi, na verdade a leitoa é que me escolheu, pois nem bem cheguei e já veio fuçar nos meus pés e embora fosse a mais mirradinha, foi ela, que levei e criei, como se fosse uma criança, dando leite de mamadeira, e fazendo cama de palha de milho para o bichinho não sentir frio. Era a minha guachinha. A pequena jaguatirica.

Não cresceu muito, deu uma porca, mais pra pequena que pra grande, acredito até que fosse refinada, pois meu padrinho tinha uns cachaços velhos, e era bem possível, que tivesse esses defeitos que os mais estudados chamam de consangüinidade e que, no meu bagualismo medonho, não entendo direito, mas que era miúda isso era. Talvez por isso fosse tão roceira, pois não tinha cerca que segurasse por maior que fosse a cangalha e botar arame no focinho, era trabalho perdido. Parecia que a desgraçada até gostava de sentir dor, pois não saia das lavouras, tanto é fato que, volta e meia abichava nas orelhas e nos quartos, de tanto dente de cachorro, mas ficava cada vez mais roceira.

Quando se findaram as tropeadas, meu pai inventou de fazer uma lavoura, em um potreirão, que havia sido antes um Pouso de Tropas, lugar esse quase na barranca do Camaquã e que era puro adubo, pois estava atopetado de esterco do gado. Não poderia ser diferente do que foi, pois tudo o que nasceu ali, tinha no mínimo dez vezes o tamanho normal, a começar pela limpeza da terra, que chegava a ter carqueja de três metros de altura e carrapicho com o tronco da grossura de um moirão e a altura quase igual aos pés de laranjeira.

A duras penas viremo a terra, pois tinha cada soca de raiz que foi preciso três juntas de bois e tiradeira dobrada, para puxar o arado, mas isso não nos fez esmorecer, pois se a erva ruim crescia daquele jeito, muito melhor seria a plantação, sendo carpida e bem cuidada.

E assim foi vivente, me acredite se quiser, mas pé de milho e mandioca chegava a cinco ou dez metros de altura e deu cada espiga que, com duas dúzias se lotava uma carreta até os fueros. Mandioca deu tão grande que chegou a rachar as paredes do galpão, que ficava a uns duzentos metros da lavoura.

- Pura verdade.

Bueno, mas voltemos ao causo da Jaguatirica, a porca mais roceira que eu já vi, pois não é que certo dia desapareceu a minha porca...

Desapareceu de tal maneira que não houve jeito de encontrar, mas como era uma praga de roceira e comum botarem os cachorros nela, me palpitou que tivesse abichado e morrido, pelos matos ou em algum manancial. Lamentei muito o sumiço do bichinho, pois tudo indicava que tinha pegado cria havia pouco tempo.

Certo dia, estava eu na lavoura, a cortar um naco de um melão, pois de tão graúdo, inteiro não havia quem arrastasse, quando então avistei a Jaguatirica, lá no canto de baixo da lavoura, bem no lugar que fazia divisa com o Camaquã. A Jaguatirica e meia dúzia de leitão. Digo meia dúzia, para não falar que eram sete, e arriscar a dizerem que é conta do mentiroso e com isso colocarem dúvida no meu relato. E digo mais. Eram todos pintadinhos e iguaizinhos a ela quando filhote.

Foi então que me dei conta, que estavam perto de uma abobra munaia, de tão grande, e que essa abobra tinha um buraco de tamanho regular em um dos lados.

Por curioso, olhei pelo buraco e, acreditem se puderem, mas ainda estava ali dentro a palha do ninho onde a porca deu cria.

Um dia desses, eu andava lá por Piratiní e contei esse causo, ao poeta Juarez Machado de Farias, que disse achar muito interessante o fato de existirem coisas de tamanho assim tão exagerado, a afirmou, que ali perto, mais exatamente na região do Cancelão, estão fabricando um tacho tão grande, que quando um ferreiro dá uma marretada o outro não escuta, de tão longe que ficam um do outro.

Curioso, perguntei para quê serviria um tacho tão grande e a resposta que tive foi que seria para fazer doce com minhas abobras.

UM CAUSO DO LIVRO PROSA DE GALPÃO

PESCANDO COM DORMINHOCO




Tudo começou em uma tardezita de verão, quando eu proseava e mateava com o meu mano Albrantino Moreira, na beira do rancho sorvendo um mate véio, bem cuiudo e relembrando as belas pescarias, nos bons tempos de guri, lá no poço do Fervor. Sem dúvidas, um dos poços mais fundos e perigosos de toda a extensão do Camaquã, pois tinha tantos redemoinhos que chegara a ponto de receber esse nome, e por certo, não fora um nem dois caíques, de bom tamanho que ali haviam fundiado e por certo também deveria ter um lote de gente se afogado naquele lugar.

Por outro lado o pesqueiro era dos buenos e dava peixe tipo bicho. Uma hora pescando, enchia meio saco e ali só dava peixe munaia, desses que só o retrato pesa de cinco quilos pra mais, mas também pudera, era um lagoão arredondado, com quase cem metros de tamanho para cada lado. Tchê de Deus, se amontoava pintado e traíra lá no fervor.

Da prosa para uma pescaria, foi um upa, assim que, uma semana depois, convidamos o primo Neri Borba, que pra facilitar o entendimento deste causo, eu digo que é filho de Gonçalino Borba, o dono do campo alagado, durante uma enchente, ao qual eu falei em outro causo que contei um dia desses.

Aquele da Enchente no Camaquã.

O Neri, mais conhecido por Pombinha, apelido que trás desde piá, fato que não vem ao caso, pois o fato real é que levamos o índio de parceiro na pescaria, uma vez que, conhecia cada palmo daquela costa do Camaquã, e era um tarrafeador de fundamento, além de ser um parceiro bueno em uma pescaria.

No dia combinado, levantei cedito e tirei uma pedaçama de minhocas. Digo pedaçama, por que no meu rancho, a minhoca é tão graúda, que não se consegue dar uma pazada sem cortar no mínimo um palmo do animalzinho.

Cobra papa-pinto é coisinha perto das minhocas que eu crio, pode-se iscar mais de dúzia de anzóis, com cada uma.

Arrumei minhas tralhas, cevei um mate e fiquei esperando os companheiros.

A idéia, era sair, no máximo, umas dez da manhã para chegar ainda com sol ao pesqueiro, para dar tempo de pescar uns lambaris, pois para a noite não tem isca melhor.

Saímos de fato, antes das dez horas, mas a estrada estava tão ruim, que só chegamos ao pesqueiro à noite, o que para nossa sorte fazia lua Cheia e a noite mais parecia um dia de tão clara, pois já era noite grande, quando andando um pouco de fubica e outro tanto a pé, conseguimos chegar.

Por sorte o Pombinha de fato conhecia aqueles campos pelos dois lados do rio, até de olho fechado, pois caso contrário, acho que teria gorado a bendita pescaria, uma vez que eu sempre viera ao Fervor tinha sido por Santaninha e, desta feita, chegava por este lado do rio, ou para que melhor me entenda, das bandas de Pinheiro Machado.

Com o atraso, não foi possível pescar lambari, de maneira que a única isca eram as minhas minhocas que, felizmente, era quase meio balde delas.

A lua, conforme falei, era um dia de tão clara e assim acomodemo, um fogo bueno, uma cambona de água e uma carnita para assar. Vestimos os anzóis de minhoca, larguemo na água e assim começamos a tirar peixe. Dava peixe de todo o porte e como a pescaria era gorda, os mais miúdos, se largava pra água de volta.

Era quase meia noite, quando resolvi pegar uma linha bem comprida, prender uma chumbada de bom peso e com ela na mão, subi num galho de salso, que se inclinava a oito ou dez passos por cima da água, pra mó de pegar melhor impulso, e mandar a linha mais longe.

Reboliei, três ou quatro vezes, aquela chumbada no ar e joguei o anzol o mais alto e longe que pude e com toda a força que Deus me deu.

Parece que a chumbada criou asas. Cheguei a pensar que ficara engaiolada em alguma coisa, pois perdi de vista de tão longe que foi, até que pelas cansadas, escutei a batida na água, aproximado a duzentos metros abaixo, isso já no poço do barro e não no fervor.

Não que eu pudesse medir, mas pelo barulho e pelo comprimento da linha, que se estendeu quase toda.

Só bateu e já correu e oigaletê... tirambaço forte que deu tchê, chegou a me debulhar como um trapo, de cima do galho quase na boca de um redemoinho.

A minha sorte toda é que a linha era forte, pois o bicho me arrastou por um bom pedaço do lagoão e só não fui engolido por um redemoinho que havia logo adiante, porque terminou o curso da linha e a outra ponta tinha ficado atada no galho do salso.

Nadei por meia hora para desviar os outros tantos redemoinhos, sendo o maior de todos, bem onde emergia o galho do salso que eu havia caído, até que desabei em uma cachoeirinha e cheguei à margem, isso a uns “noventa e nove” metros abaixo do local onde havia caído.

Voltando encontrei o mano com as mãos sangrando de tanto puxar a linha, sem ter conseguido tirar pra fora aquele munaia peixe, pois a linha era forte e aguentou, mas o bicho tironeou tanto, que só ficou no anzol a isca e um pedaço do beiço do danado.

Ao pegar o anzol foi que entendi, porque havia ido tão longe, pois não é que ao rebolear a chumbada, enganchei a fisga do anzol no bico de um dorminhoco em pleno vôo e o bicho fisgado, por certo voou até onde a linha esticou, para então cair já quase na boca do peixe.

Pra arrematar este causo, eu afirmo que pesquei o resto da noite com aquele dorminhoco de isca e, acredite se puder, mas peixe nenhum roubou a isca durante a noite, porque a verdade é que nem com a mão eu conseguiria iscar melhor, pois havera de ser que o anzol tinha entrado pelo bico do bicho, ficando a alumiar a pontinha da fisga, bem onde sai o esterco.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Italo Dorneles. Radio tertulia

segunda-feira, 3 de maio de 2010


Livro "À Beira do Fogo" de Severino Rudes Moreira







MEU LIVRO



O Livro de causos gauchescos “A Beira do Fogo” de Severino Rudes Moreira acaba de ser reeditado pela Biblioteca 24X7, uma representante da Seven System em São Paulo.



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Postado por Ítalo Dorneles às 16:09