COMO ME ENXERGAM
E COMO ME OUVEM
Muitos não me
enxergam campeiro, por que minha bombacha tem feitio caseiro, palmo e pico de
largura e o punho fica no cano da bota.
Não me enxergam
campeiro por que minha camisa tem uma cor só e um botão em cada punho.
Não me enxergam
campeiro por que meu lenço também tem uma cor só e alguns palmos de tamanho.
Não me enxergam
campeiro por que não uso um chapéu com um palmo de aba e nem boina cruzada na
fronteira.
Também não me
escutam campeiro por que meu verso não fala de grandes estâncias e sesmarias
sem fim.
Não me escutam
campeiro por que meu verso não é traduzido por peão de estância nem patrão.
Não me escutam
campeiro por que meu verso não é tropeiro nem domador.
Não me escutam
campeiro por que meu verso não dorme em galpão e nem em cama de pelego.
Não me escutam
campeiro por que meu verso também fala de amor, paz e fraternidade.
De fato. Nunca fui estancieiro nem peão de
estância, pois venho de um berço rural medindo poucas braças de campo, cujo
proprietário era um homem simples que criou a prole sendo campeiro e agricultor
ao mesmo tempo sempre respeitando cada bicho, cada gota de água e cada punhado
de terra que os cercavam.
Nunca tive um
patrão, mas tive um pai que tropeava o próprio gado, amansava seus bois e domava
seus cavalos. Nunca foi patrão, mas tinha em cada filho um peão para a lida.
Nunca tive um
galpão de estância, mas tive um rancho humilde e uma cama tosca para descansar
depois da lida que nunca começou depois do sol mostrar a cara e nem terminou antes
que fosse engolido pela noite.
Assim que:
Talvez não sirva
por modelo de campeirismo, afinal minha vida de campo se resume nos primeiros
14 anos de vida, mas nesse tempo o que vi, ouvi e vivi, me fizeram aprender
coisas que por certo muitos morrerão de velhos sem conhecer.
Talvez por isso
meu verso traduza essa visão um pouco diferenciada de campeirismo!
Meu verso retrata
a figura desse pequeno mundo de cada um que nunca foi patrão exceto de si
mesmo, que compartilha com a família a lida e o pão de cada dia. Que ainda pede
a benção quando se acende o lampião. Que conhece a dor dos bichos no
comportamento. Que sabe o pelo e a mania de cada vaca da mangueira, as baldas
de cada matungo, a furna de cada mulito, o ninho de cada pássaro, a laranjeira
que da o fruto mais doce e até a lua boa para cada coisa. Enfim é esse o mundo
que conheço e é dessa gente que meu verso fala,
Talvez por ser
esse o meu mundo, para mim não existe nada mais campeiro que isso!!!!!
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